quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O SILÊNCIO DO BEM ESTAR ou O OLHAR DO OUTRO


Para mim, o sofrimento é um terreno fértil para as divagações, se não há sofrimento não reflexões. Estou bem, por isso não tenho escrito. Será que a felicidade nos faz burros? Não é a toa que os maiores cérebros da humanidade eram de pessoas infelizes.

Estranho acontecer logo agora, quando resolvi me tornar público. Mas, acredito ter tomado essa resolução por perceber esta melhora em meu estado de espírito. Não teria feito se ainda me sentisse mal. A fraqueza do mal estar não me deixaria ter a coragem para tanto.
  
Mas agora, neste novo contexto, paira o medo da reprovação moral, sexual, literária; seja lá o que for. “O inferno é o outro”, como diria Sartre.

Por isso, agora, tomo uma decisão: Esquecerei de vocês. Escreverei como se ainda fosse o único a me ler. Correrei esse risco!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

TRECHO CRESPÚSCULO DOS ÍDOLOS, BY NIETZSCHE


"Chamar a domesticação de um animal seu "melhoramento" soa, para nós, quase como uma piada. Quem sabe o que acontece nos amestramentos em geral duvida de que a besta seja aí mesmo "melhorada". Ela é enfraquecida, tornam-na menos nociva, ela se transforma em uma besta doentia através do afeto depressivo do medo, através do sofrimento, através das chagas, através da fome. – Com os homens domesticados que os sacerdotes "melhoram" não se passa nada de diferente. Na baixa Idade Média, onde de fato a igreja era antes de tudo um amestramento, caçava-se por toda parte os mais belos exemplares das "bestas louras". "Melhoravam-se", por exemplo, os nobres alemães. Mas com o que se parecia em seguida um tal alemão "melhorado", seduzido para o interior do claustro? Com uma caricatura do homem, com um aborto. Ele tinha se tornado um "pecador", ele estava em uma jaula, tinham-no encarcerado entre puros conceitos apavorantes... Aí jazia ele, doente, miserável, malévolo para consigo mesmo; cheio de ódio contra os impulsos à vida, cheio de suspeita contra tudo que ainda era forte e venturoso. Resumindo, um "Cristão"... Fisiologicamente falando: o único meio de enfraquecer a besta em meio à luta contra ela pode ser adoecê-la. A igreja compreendeu isso: ela perverteu o homem, ela o tornou fraco, mas pretendeu tê-lo "melhorado"... todos os meios, através dos quais até aqui a humanidade deveria se tornar moral, foram fundamentalmente imorais".

sábado, 1 de outubro de 2011

CAIPIROSKAS, CIGARROS E FRAGMENTOS

Não quero acreditar em possibilidades improváveis. Para mim, tudo que era para ser já se foi. Possibilidades infundáveis não combinam com minhas convicções, mentiras sinceras não me interessam mais. As constatações consubstanciadas me acalentam, sorrisos insossos não mais me apetecem. E assim sobrevivemos, mais fortes do que nunca. Não mais tenho medo da minha força, e minha fraqueza é algo que me causa repulsa. Por isso, sobrevivo, bem mais forte do que antes...aquele não era mais eu...

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

SOU TANTA COISA


Sou tanta coisa...
Sou tão complicado. Sou tão simples. Sou tudo e sou nada.
Sou rueiro, sou caseiro, sou tímido, sou extrovertido, chego até a ser muito doido...
Sou como as estações do ano... Sou dia, sou Sol... Sou noite, sou Lua cheia, sou Lua Nova...
Sou Primavera, quando entrar Setembro...
Sou Outono... Folha que nasce... Sou vento forte que muda a paisagem...
Sou Verão... Sou campo, sou cidade, sou cachoeira e chapada, sou praia, sou casa com piscina...
Mas sou bem melhor se sou Inverno... Sou frio...Sou jaqueta, sou edredom macio, e, principalmente, sou meia nos pés...
Sou passado, sou presente e serei futuro.
Sou viagens, sou passeios, sou shopping, sou cinema, sou barzinho... Sou teatro e sou museu, sou casa de amigos, sou de dentro e sou de fora...
Sou cerveja gelada para depois ser água de coco...Sou coca com gelo e, por favor, SEM LIMÃO!!!!...Sou vinho, sou tônica, sou suco de laranja gelado e sem açúcar...
Sou amigo, sou desconfiado, sou teimoso, sou rabugento, sou sincero, sou insistente, sou engraçado, sou impaciente, sou palpiteiro... Sou bonzinho e também sou gente ruim... Sou criança e sou adulto.
Sou Raul, sou Beatles, sou Janis, sou Jim, sou Hendrix, sou Elvis, sou Elis, sou Ozzy e Sou Tim Maia... Sou Mutante(s), sou Novo(s) e sou Baiano(s), e também sou Seco(s) e sou Molhado(s)...Sou soul, sou jazz, sou Blues e sou MPB...SOU ROCK AND ROLL!!!!
Sou “Johnny vai a Guerra”, sou “Laranja Mecânica”, sou “LavourArcaica”, sou “Tempos Modernos”...Sou Fellini, sou Almodóvar, sou Tarantino, sou Woody Allen...Sou Antonioni e Bunuel.Sou Clarice, sou Buckowiski, sou Poe e sou Dostoiewisk  ...Sou ainda Foucault,...e mais do que qualquer um, sou Kafka... Agora sou também Nietzsche.
Sou “Germinal”, sou “Entre quatro paredes”, sou “1984” e “Admirável Mundo Novo”...Sou o “Alienista”, sou o “Anti-Cristo” e sou “Alice no País das Maravilhas”...
Sou Neo, sou David (AI), sou até mesmo o ET...Sou Dorian Gray, sou Kaspar Hauser, Sou Gregor Samsa e GH...
Sou Lilás, sou Branco, sou Verde, sou Preto, e de vez em quando, sou até Marron, mas sempre, sempre sou azul...
Sou calça jeans e camiseta, nunca sou chinelo, às vezes posso ser até sandália, mas também sou bota...Sou tênis, muito a contra gosto sou sapato...Sou apenas de meia velha e suja pisando no chão...
Sou óculos escuros, sou cabelo curto e sou barba por fazer...
Sou ar condicionado, sou ventilador, mas também sou vento, sou ar livre, sou natural...
Sou caminhar pela rua, sem parar, sem pensar, sem destino, sem lugar”...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

DELÍRIOS: MEDOS


Hoje recebi uma ligação bem inesperada. Meu sobrinho, de 9 anos. Tão inesperada quanto a sua ligação foi o seu motivo: “Qual o seu maior medo?” - perguntou. Precisava elencar o medo de dez pessoas, trabalho de escola. 

Pensei um pouco antes de responder. Nada me via a mente. Não tenho medo de nada?! Constatei de forma indignada. Senti medo desta constatação, pouco saudável e bastante arrogante. Mas, para não deixa-lo sem resposta: “Tenho medo dos meus medos, acho que tenho fobofobia”, respondi. Ele riu, mas a aceitou de bom grado.

Percebo que todo esse processo que vivenciei há alguns meses me transformou numa pessoa mais forte. Sei que coisas piores podem acontecer do que um simples fim de relacionamento. Mas, “esse fim” e a dor  experimentada me fizeram vestir novamente uma armadura que há tempos não vestia. 

Gosto desta sensação de força. Como me sentisse pronto para quase todas as possibilidades, todos os acasos e fatalidades da vida. Não nego que sofreria em diferentes graus caso algumas delas viessem a ocorrer, mas tenho a convicção de que sobreviveria a muitas delas.

No entanto, a pergunta não mais me abandonou no resto do dia, até que, finalmente, eu descobri aquilo que para mim considero um bom medo. Tenho medo de ser velho. Não me refiro apenas à decadência do corpo, afinal envelhecemos a cada momento, morremos um pouco a cada respiração. Mas, ser velho, como sinônimo de obsoleto, isto sim me amedronta. Gostaria de estar mais preparado para este processo.

Pensando bem, constato que carrego comigo essa preocupação desde a tenra idade. Porém, com o meu envelhecer, percebi que nunca me senti tão velho como eu esperava estar. Lembro-me que aos 15 anos um cara de 33 já era um senhor, um velho, arcaico. Hoje, no entanto, já com esta idade me sinto até bem jovem. Chego a assumir que tenho ainda uma grande dificuldade de me ver como um adulto. Um tipo de Síndrome de Peter Pan.

Lembro-que aos 11 anos vislumbrava com respeito os alunos mais velhos. Deveriam ter 17 anos, alguns com barba e com porte físico já solidificado. Para mim eram homens adultos, senhores de si e do mundo, donos de todas as verdades; olhava-os com veneração. Até hoje, não consigo me ver como eles. Continuam sendo mais velhos do que eu. Meus 33 anos não ultrapassaram aqueles 17 e continuo tendo perguntas sem respostas.

Gosto desta sensação, mesmo sabendo que ela é uma farsa. Quiçá um subterfúgio anti-envelhecimento. Sei que não envelhecer fisicamente é algo impossível, e já me contento apenas em retardar esse processo e cooperar com o tempo e vitando alguns abusos.

No entanto, minha alma, esta eu espero que não envelheça jamais. Gostaria de nunca me envelhecer para a dinâmica da vida e para os novos processos sociais. Pois sei que existem infinitas possibilidades de transformações que ainda nem vislumbramos. Gostaria de nunca ser ultrapassado. Gostaria de nunca me envelhecer para o mundo.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

TORNA-TE QUEM TU ÉS


"Torna-te quem tu és". Talvez seja este o melhor conselho que se possa dar. Resta-me agora apenas uma pequena pergunta: Quem sou eu realmente?

domingo, 28 de agosto de 2011

EU, ESTÔMAGO


Morar no estômago não é para qualquer um. É assim que me sinto, morando no meu estômago. Não sou cérebro, não sou coração e nem sou pulmão, sou apenas ele e ele sou eu. Há dias vivo apenas para ele. Meu Estômago-Casa, meu Estômago-Templo, meu Estômago-Eu. Nada de dores de cotovelos e amores não solucionados, nada de dívidas não solvidas e nem solidões mal digeridas. Apenas bactérias, um motim delas. Estrebucho e me esvaio em litros de descarga. Foi-se embora alguns quilos, foi-se embora também todas as dores.  Restará apenas osso, carcaça e alma.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

SEM TÍTULO, BY PEDRO BIAL

"(...) a morte, por si só, é uma piada pronta. Morrer é ridículo.

Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente?

Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer. A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. 
 
Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente.

De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis.

Qual é? Morrer é um cliche.

Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira.

Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu.

Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério?

Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz.

Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas.
Só que esta não tem graça".

domingo, 21 de agosto de 2011

DE CLARICE A NIETZSCHE


Não passei bem esses dias. Cinco dias de dores ininterruptas. Meu estômago. Pois é, ele novamente. Hospital, consultas, remédio, atestado médico para descanso e nada. O problema somente foi resolvido no divã.  "Chega de Clarice, leia Nietzsche", recomendou. Problemas outros me incomodam, não mais aqueles de outrora. Buscarei meu super-homem.

Interessante essas instabilidades da vida. Percebo que as recebo de forma muito resignada. Lógico que a dor me incomoda, e muito. Mas se reeguer nos mostra como é bom estar vivo e saudável. Equilíbrio e desequilíbrio, sofrimento e bem-estar, tristeza e felicidade, essas sensações são as provas de que ainda estamos respirando e vivos.

domingo, 14 de agosto de 2011

SOBRE AS INEVITÁVEIS TRANSIÇÕES


Um tempo considerável se passou após minha última postagem. Peço desculpas a vocês, meus queridos e desocupados seguidores.

Muitas coisas aconteceram nestes dias de silêncio. Não se preocupem, não trago mais notícias ruins e melancólicas, são as boas notícias que me trazem aqui novamente. O destino tem cooperado bastante comigo.

Como sabem passei um bom tempo remoendo os últimos acontecimentos da minha dolce vita, o meu zeitgeist. Minha razão tentava me convencer que tais fatos eram imutáveis, e que cabia a mim somente me resignar e seguir a vida. Tinha consciência disso, mas não conseguia assimilar verdadeiramente a mensagem.

Decidi passar por todo esse processo de cara, sem exagerar no álcool e sem fazer uso de drogas, principalmente a cocaína. Sei que elas iriam potencializar ainda mais a minha fossa.

Porém, há umas três semanas decidi quebrar essa privação e me propiciando uma boa sessão*, daquelas quase sem fim. Fiz e posso afirmar que não me arrependo em momento algum. Muito pelo contrário, ouso dizer que ela me fez muito bem. Creio que essa over-adrenalização do meu cérebro acabou mudando algo, como se trocasse a minha polaridade.

Foi dois dias após que decidi ligar para G., para que a partir daí de forma convicta, seguisse com a minha vida. Vislumbro sonhos e possibilidades que há pouco tempo não vislumbrava. Estou aberto à vida, a conhecer e experimentar outros caras e tenho conhecidos uns até muito legais e interessantes. Posso até afirmar que estou em meio a uma recém-nascida paixonite. Pois é, fui rápido também.

Quanto a G. temos conseguido com muito êxito reconstruir nossa amizade. Nos vimos mais algumas vezes, já veio ao meu apartamento e confidenciamos ao outro todas as nossas novas aventuras de um bom solteiro. Pode ser que talvez seja cedo demais para isso. Mas tá sendo assim, e tenho achado legal. Torço muito que ele fique bem. E acho que ele também está caminhando para isso.

(*) quando se dá o uso de cocaína, e, geralmente, de forma imoderada

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

ENCONTROS, DESENCONTROS E REENCONTROS


Antes eu te olhava do meu dentro para fora e do dentro de ti, que por amor, eu adivinhava. Depois da cicatrização passei a olhar-te de fora para dentro. E olhar-me também de fora para dentro: eu me transformara num amontoado de fatos e ações que só tinham raiz no domínio da lógica".
(Clarice Lispector, in Um Sopro de Vida)


Era domingo, e domingo é uma merda. Não aguentava mais, tinha que ligar para ele. Precisava de respostas.  Assim fiz.

Não demorou em atender. Parecia bem. O cumprimentei, fiz uma pequena introdução, mas decidi ser direto: "Teve algum fato expecífico que desencadeoou tudo isso?". Respondeu de forma tão direta como perguntei. "No foi um fato isolado, foram vários pequenos fatos: suas saídas, o seu descaso, as drogas...". Nada que eu já não sabia.

Me fez bem ligar. Percebi que já não havia chance. Deve ter sido difícil para ele. Tinha apenas 20 e poucos anos e estava casado com um cara que não lhe transmitia a segurança e o amor necessário. Sei que ele havia apostado alto nessa estória. Mea culpa, mea máxima culpa, reconheço. Mas, confesso que não a carregarei comigo. Ficou para trás, já era.

Na terça-feira, já mais leve liguei novamente e combinamos de nos ver. Fui buscá-lo em sua casa. Acreditava que nunca mais faria aquele percurso novamente, e o fiz sem expectativa alguma. Não acreditava na possibilidade de retorno por ambas as partes.

Descobri que ele não está bem, fiquei surpreso com isso. Mas ele não sofre por mim, e sim pelo seu novo amor que não vingou. Aquele mesmo, seu irmão de santo. O seu namoro não foi aceito pelo seu guia, é como se fosse um incesto espiritual. Fora expulso de seu terreiro. Já seu namorado pode permanecer, mas renunciando a ele. G. ficou sem nada: sem amor e sem mentor.

Por essas está em meio a um pequeno inferno astral. Faculdade já era, pelo menos o semestre; está fumando, Carlton, pelo menos tem bom gosto; e seus olhos me olham de forma diferente, vazios, como de estátua. Quem eu amava e o que eu amava já não existe mais, constatei.

Fiquei triste? É claro que fiquei. Não o gostei de vê-lo assim. Mas tudo isso me fez ter a convicção que não há mais espaço nele pra mim, nem em mim para ele. Somos duas criaturas estranhas, diferentes daquele outro momento. 

Mas, apesar de tudo, sua amizade me interessa, e muito. Na verdade acho que foi o que mais me interessou sempre, desde quando ele me deixou conhecer a sua alma. Mas, não quero que os sentimentos se misturem. Conselho este que serve para mim e também para ele.


Mesmo com esse desfecho, continuo acreditando que vivemos uma estória legal, não me arrependo. Foi um romance para rechear a biografia de minha vida. Afinal, todo roteiro que se preze tem que ter uma  bela estória de amor, mesmo que ela não  dure até o último capítulo.

sábado, 30 de julho de 2011

40 DIAS E 40 NOITES


Mais de quarenta dias se passaram. Estou bem melhor. Mudei de casa, já consigo me exercitar novamente e retorno a yôga semana que vem. Mas, ainda me lembro de G.. A sua não presença em minha vida é a primeira sensação a ser degustada quando acordo.

Aliás, não tenho dormido muito. Ontem acordei às 03:30h, hoje às 04:50h. Acordo como se alguém tivesse apertado ON numa máquina que não precisa esquentar. Minha cabeça já está a mil. Levanto, tomo banho, faço a barba, escrevo, leio um livro, corro; já acordo pronto.

Sexta-feira passada assim fiz. Como sempre pensando muito em tudo que vem ocorrendo. Às seis decido olhar pela janela, o inverno anda bem frio, abro a cortina para vislumbrar o tempo e melhor perceber o clima. De súbito vejo um táxi passando na rua. Dentro estava ele, pude ver claramente, trajando sua habitual camisa branca das sextas. 

O destino é sórdido, qual o motivo de me propiciar tamanha coincidência? Poderia ter passado sem essa, pensei.

Amor, depois perda e saudade que se transmutou em indiferença e que agora cede espaço ao rancor. Não devo me sentir culpado por nutrir tal sentimento. Descartou-me de forma muito rápida e isto não perdoarei tão cedo.

Difícil afirmar especificadamente onde essa sua atitude me feriu. Meu orgulho é claro que foi ferido, mas a cumplicidade que existia entre nós foi massacrada, torturada e mutilada. Acreditava ser importante para ele como ele era para mim. Agora sei que estava enganado. Não sabia que eu era algo tão descartável.

G. me traiu de corpo e alma, como se quisesse me matar dentro dele. Mas, acabou também me matando um pouco dentro de mim mesmo.

Agora só me resta jogar a última pá de terra em cima do caixão que guarda o corpo deste amor moribundo. Mesmo ainda respirando deve ser enterrado, não merece viver, pois não sabe mais o que é. E assim farei.

domingo, 24 de julho de 2011

DELE PARA MIM EM UM PASSADO NÃO DISTANTE


"As vezes me pego tentando relembrar como foi todo nosso processo, e de tão sutil, não consigo visualizar de forma clara como aconteceu.

Tudo tão natural e construído com leveza, com algumas asperezas vez ou outra. Mas isso tudo torna o que construímos, de certo modo, algo mais forte.

Um muro, uma parede, uma casa, se construído rapidamente corre o risco maior de cair com qualquer ventinho. Porém, aqueles que tem o tempo como aliado, conseguem ter menos rachaduras e pontos cegos, ainda que tempestades os assolem.

Falo sempre que te amo, por medo do porvir. medo de não ter dito e não ter externado todo o sentimento que pulsa em mim.

O medo do risco e o risco propriamente dito me adrenalizam a alma. Não gosto dessa turbulência pacata, silenciosa e constante.

Mas, os momentos de calma, mansidão, ternura e amor que temos contrabalanceiam esse movimento, guardando uma tênue linha de equilíbrio.

O amor é isso. "Pulo soflimento". Sofrimento regado com sabores "de fruta mordida", com pitadas de "veneno antimonotonia", e sei lá....

Porra....só quero que saiba que te amo muito. Tenho saudades do que vivemos (os tempos bons..deixando bem claro...rs) e melhor, até do q não vivemos ainda..rs.

Quero estar contigo por muito e muito tempo mais, poder curtir cada momento, gozar da vida a dois até quando nos for permitido (espero que o prazo de validade seja a eternidade).

Como diz a música lá: "não me deixe só/ eu tenho medo do escuro/ tenho medo do inseguro/ dos fantasmas da minha voz".

E outra parte dessa mesma música: "fique mais/ eu gostei de ter você/ não vou mais querer ninguém/ agora que sei quem me faz bem"...

Então...

Te amo!!!!"

quinta-feira, 21 de julho de 2011

AMOR SEM BARRACO NÃO É AMOR, DE XICO SÁ


“Acabamos numa boa”, me diz a amiga W., uma das tantas moças de fino trato que me elegeram confidente. Tudo bem, sou todo ouvidos, escuto imperturbável e sereno como uma caricatura do doutor Sigmund Freud baforando o seu charuto.

Ela prossegue: “Sem drama mesmo, sabe?”.

Sim, sei, conta outra para ver se acredito.
“Nunca achei que fosse possível terminar de uma forma tão tranqüila e sem mágoas”, continua W. sem parar de falar, compulsiva, com sua narrativa sob suspeita.

Ah, conta outra, amiga, desconfio no meu inoxidável silêncio de ouvidor-geral dos corações aflitos.

A mulher com W maiúsculo, como naquela canção do Mundo Livre S/A, narra ainda: “Acabar assim é ótimo, agora temos toda a tranqüilidade para cuidar das coisas práticas sem aquela loucura no juízo”.

Na minha silenciosa caixola de confidente, agora toca baixinho outro refrão: “Que mentira, que lorota boa”. Essa é do Luiz Gonzaga, um clássico – não sei pensar sem fundo musical, mania antiga, caro(a) leitor(a).

Ela fala mais que o homem da cobra, um Pentecostes de conversa, sempre com a mesma tese: acabamos numa boa, numa “nice”.  Conta outra, minha querida, pensa que eu nasci ontem e de sete meses?

Ah, toda vida que alguém me conta que pingou o ponto final em um relacionamento sem as dores de sempre, ligo o botão de todas as dúvidas e suspeitas.

O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.

Nem no Crato, Brumadinho, Mimoso ou Estocolmo, na Suécia.
Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” com o dedinho no gelo sem uma quebradeira monstruosa.
 
Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava.

O mais frio, o mais cool dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim. O mais relaxado dos latinos se acaba no bolero de Bienvenido Granda, com suas angústias e perfumes de gardênias. O mais zen dos brasileiros acaba com os mananciais da água que passarinho não bebe. E tome Roberto, Waldick ou Chico Buarque, no caso dos mais finos.

O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.
O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira costela ou com o primeiro traste que aparece pela frente.

Acabar numa boa é como nada tivesse havido. Conta outra que só acredito no amor dos corações em permanente barraco.