quarta-feira, 3 de agosto de 2011

ENCONTROS, DESENCONTROS E REENCONTROS


Antes eu te olhava do meu dentro para fora e do dentro de ti, que por amor, eu adivinhava. Depois da cicatrização passei a olhar-te de fora para dentro. E olhar-me também de fora para dentro: eu me transformara num amontoado de fatos e ações que só tinham raiz no domínio da lógica".
(Clarice Lispector, in Um Sopro de Vida)


Era domingo, e domingo é uma merda. Não aguentava mais, tinha que ligar para ele. Precisava de respostas.  Assim fiz.

Não demorou em atender. Parecia bem. O cumprimentei, fiz uma pequena introdução, mas decidi ser direto: "Teve algum fato expecífico que desencadeoou tudo isso?". Respondeu de forma tão direta como perguntei. "No foi um fato isolado, foram vários pequenos fatos: suas saídas, o seu descaso, as drogas...". Nada que eu já não sabia.

Me fez bem ligar. Percebi que já não havia chance. Deve ter sido difícil para ele. Tinha apenas 20 e poucos anos e estava casado com um cara que não lhe transmitia a segurança e o amor necessário. Sei que ele havia apostado alto nessa estória. Mea culpa, mea máxima culpa, reconheço. Mas, confesso que não a carregarei comigo. Ficou para trás, já era.

Na terça-feira, já mais leve liguei novamente e combinamos de nos ver. Fui buscá-lo em sua casa. Acreditava que nunca mais faria aquele percurso novamente, e o fiz sem expectativa alguma. Não acreditava na possibilidade de retorno por ambas as partes.

Descobri que ele não está bem, fiquei surpreso com isso. Mas ele não sofre por mim, e sim pelo seu novo amor que não vingou. Aquele mesmo, seu irmão de santo. O seu namoro não foi aceito pelo seu guia, é como se fosse um incesto espiritual. Fora expulso de seu terreiro. Já seu namorado pode permanecer, mas renunciando a ele. G. ficou sem nada: sem amor e sem mentor.

Por essas está em meio a um pequeno inferno astral. Faculdade já era, pelo menos o semestre; está fumando, Carlton, pelo menos tem bom gosto; e seus olhos me olham de forma diferente, vazios, como de estátua. Quem eu amava e o que eu amava já não existe mais, constatei.

Fiquei triste? É claro que fiquei. Não o gostei de vê-lo assim. Mas tudo isso me fez ter a convicção que não há mais espaço nele pra mim, nem em mim para ele. Somos duas criaturas estranhas, diferentes daquele outro momento. 

Mas, apesar de tudo, sua amizade me interessa, e muito. Na verdade acho que foi o que mais me interessou sempre, desde quando ele me deixou conhecer a sua alma. Mas, não quero que os sentimentos se misturem. Conselho este que serve para mim e também para ele.


Mesmo com esse desfecho, continuo acreditando que vivemos uma estória legal, não me arrependo. Foi um romance para rechear a biografia de minha vida. Afinal, todo roteiro que se preze tem que ter uma  bela estória de amor, mesmo que ela não  dure até o último capítulo.

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