sábado, 30 de julho de 2011

40 DIAS E 40 NOITES


Mais de quarenta dias se passaram. Estou bem melhor. Mudei de casa, já consigo me exercitar novamente e retorno a yôga semana que vem. Mas, ainda me lembro de G.. A sua não presença em minha vida é a primeira sensação a ser degustada quando acordo.

Aliás, não tenho dormido muito. Ontem acordei às 03:30h, hoje às 04:50h. Acordo como se alguém tivesse apertado ON numa máquina que não precisa esquentar. Minha cabeça já está a mil. Levanto, tomo banho, faço a barba, escrevo, leio um livro, corro; já acordo pronto.

Sexta-feira passada assim fiz. Como sempre pensando muito em tudo que vem ocorrendo. Às seis decido olhar pela janela, o inverno anda bem frio, abro a cortina para vislumbrar o tempo e melhor perceber o clima. De súbito vejo um táxi passando na rua. Dentro estava ele, pude ver claramente, trajando sua habitual camisa branca das sextas. 

O destino é sórdido, qual o motivo de me propiciar tamanha coincidência? Poderia ter passado sem essa, pensei.

Amor, depois perda e saudade que se transmutou em indiferença e que agora cede espaço ao rancor. Não devo me sentir culpado por nutrir tal sentimento. Descartou-me de forma muito rápida e isto não perdoarei tão cedo.

Difícil afirmar especificadamente onde essa sua atitude me feriu. Meu orgulho é claro que foi ferido, mas a cumplicidade que existia entre nós foi massacrada, torturada e mutilada. Acreditava ser importante para ele como ele era para mim. Agora sei que estava enganado. Não sabia que eu era algo tão descartável.

G. me traiu de corpo e alma, como se quisesse me matar dentro dele. Mas, acabou também me matando um pouco dentro de mim mesmo.

Agora só me resta jogar a última pá de terra em cima do caixão que guarda o corpo deste amor moribundo. Mesmo ainda respirando deve ser enterrado, não merece viver, pois não sabe mais o que é. E assim farei.

domingo, 24 de julho de 2011

DELE PARA MIM EM UM PASSADO NÃO DISTANTE


"As vezes me pego tentando relembrar como foi todo nosso processo, e de tão sutil, não consigo visualizar de forma clara como aconteceu.

Tudo tão natural e construído com leveza, com algumas asperezas vez ou outra. Mas isso tudo torna o que construímos, de certo modo, algo mais forte.

Um muro, uma parede, uma casa, se construído rapidamente corre o risco maior de cair com qualquer ventinho. Porém, aqueles que tem o tempo como aliado, conseguem ter menos rachaduras e pontos cegos, ainda que tempestades os assolem.

Falo sempre que te amo, por medo do porvir. medo de não ter dito e não ter externado todo o sentimento que pulsa em mim.

O medo do risco e o risco propriamente dito me adrenalizam a alma. Não gosto dessa turbulência pacata, silenciosa e constante.

Mas, os momentos de calma, mansidão, ternura e amor que temos contrabalanceiam esse movimento, guardando uma tênue linha de equilíbrio.

O amor é isso. "Pulo soflimento". Sofrimento regado com sabores "de fruta mordida", com pitadas de "veneno antimonotonia", e sei lá....

Porra....só quero que saiba que te amo muito. Tenho saudades do que vivemos (os tempos bons..deixando bem claro...rs) e melhor, até do q não vivemos ainda..rs.

Quero estar contigo por muito e muito tempo mais, poder curtir cada momento, gozar da vida a dois até quando nos for permitido (espero que o prazo de validade seja a eternidade).

Como diz a música lá: "não me deixe só/ eu tenho medo do escuro/ tenho medo do inseguro/ dos fantasmas da minha voz".

E outra parte dessa mesma música: "fique mais/ eu gostei de ter você/ não vou mais querer ninguém/ agora que sei quem me faz bem"...

Então...

Te amo!!!!"

quinta-feira, 21 de julho de 2011

AMOR SEM BARRACO NÃO É AMOR, DE XICO SÁ


“Acabamos numa boa”, me diz a amiga W., uma das tantas moças de fino trato que me elegeram confidente. Tudo bem, sou todo ouvidos, escuto imperturbável e sereno como uma caricatura do doutor Sigmund Freud baforando o seu charuto.

Ela prossegue: “Sem drama mesmo, sabe?”.

Sim, sei, conta outra para ver se acredito.
“Nunca achei que fosse possível terminar de uma forma tão tranqüila e sem mágoas”, continua W. sem parar de falar, compulsiva, com sua narrativa sob suspeita.

Ah, conta outra, amiga, desconfio no meu inoxidável silêncio de ouvidor-geral dos corações aflitos.

A mulher com W maiúsculo, como naquela canção do Mundo Livre S/A, narra ainda: “Acabar assim é ótimo, agora temos toda a tranqüilidade para cuidar das coisas práticas sem aquela loucura no juízo”.

Na minha silenciosa caixola de confidente, agora toca baixinho outro refrão: “Que mentira, que lorota boa”. Essa é do Luiz Gonzaga, um clássico – não sei pensar sem fundo musical, mania antiga, caro(a) leitor(a).

Ela fala mais que o homem da cobra, um Pentecostes de conversa, sempre com a mesma tese: acabamos numa boa, numa “nice”.  Conta outra, minha querida, pensa que eu nasci ontem e de sete meses?

Ah, toda vida que alguém me conta que pingou o ponto final em um relacionamento sem as dores de sempre, ligo o botão de todas as dúvidas e suspeitas.

O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.

Nem no Crato, Brumadinho, Mimoso ou Estocolmo, na Suécia.
Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” com o dedinho no gelo sem uma quebradeira monstruosa.
 
Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava.

O mais frio, o mais cool dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim. O mais relaxado dos latinos se acaba no bolero de Bienvenido Granda, com suas angústias e perfumes de gardênias. O mais zen dos brasileiros acaba com os mananciais da água que passarinho não bebe. E tome Roberto, Waldick ou Chico Buarque, no caso dos mais finos.

O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.
O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira costela ou com o primeiro traste que aparece pela frente.

Acabar numa boa é como nada tivesse havido. Conta outra que só acredito no amor dos corações em permanente barraco.

sábado, 16 de julho de 2011

DO INÍCIO DO MEIO AO INEVITÁVEL FIM




Era outubro de 2008, não sei precisar o dia. Estava de mudança, eu e G. nos despedíamos do meu futuro ex-apartamento numa costumeira festa íntima. Já era noite quando decidimos oficializar nossa relação. Tornávamos namorados.

Aos poucos nosso enlace ia se tornando público. Eu passei a fazer parte do mundo de G. e ele do meu. Tivemos muitos momentos que deixaram saudades, outro nem tanto, já que os meus excessos ainda continuavam existindo, mesmo de forma esporádica.

Apesar de tudo ele permanecia sempre ao meu lado, brigando, aceitando e até perdoando as traições ocorridas nos momentos de insanidade.

Na medida do possível tudo caminhava bem. Neste período G. decidira trilhar o caminho dos Orixás. Não dei importância,  desde sempre o conhecera inquieto em relação a sua espiritualidade. Padre, mórmon e agora filho-de-santo. Para mim seria só mais um de seus devaneios em busca de respostas. Mas, não era.

A consolidação de sua escolha me incomodou muito. Tentei ao máximo me adaptar e aceitar seus dogmas, costumes e, principalmente, os resguardos e limitações. Não foi fácil para nenhum dos dois. Mesmo assim seguíamos fortes e apaixonados; eu com meus vícios e ele com a sua fé (ele odiava essa comparação), duas determinantes de suma importância para o desfecho desta estória.

Nosso amor, nossa amizade e nosso companheirismo cresciam de forma surpreendente. Amadurecemos um diante do outro. Viajamos juntos, conhecemos os respectivos amigos e fizemos novas amizades, trocamos confidências, dividíamos segredos e compartilhávamos intimidade. Um era a metade do outro. Estudamos juntos e tivemos êxito num mesmo concurso. Nossa cumplicidade crescia cada vez mais, até que ocorreu o inevitável: decidimos morar juntos.

A essa altura G. já se havia iniciado como filho-de-santo. Na medida do que me foi possível tentei apoiá-lo. Mas, meu possível não era suficiente. Os preceitos de sua religião passaram a ser um motivo constante de desentendimentos.

No fatídico 08 de junho deste ano, faltando 04 dias para nosso 3º dia dos namorados, ele decidiu me deixar. Brigávamos. Eu não me conformava ficar só nos fins de semana para ele dar assistência a seu terreiro. Abrir mão de sua presença me incomodava muito.

Dias difíceis aqueles que precederam nosso rompimento. Longas conversas, muitos calmantes, infinitos torpedos e uma sensação indescritível que beirava o insuportável. G. argumentava que não mais agüentava os meus excessos.

Mas esse não era o real motivo, afinal havia um tempo que tais excessos não ocorriam. A minha não adequação a sua fé foi o que realmente nos distanciou. Mesmo assim fingi acreditar no motivo por ele apresentado.

No domingo, dia dos namorados, marcamos um encontro. Prometi mudanças  e que seria mais tolerante. Ele me perdoou, disse que não tinha raiva, mas não reataria. “Meu coração está fechado e não mais consigo abri-lo”, finalizou.

Passada a tempestade voltamos a conversar. Ele me ajudou a iniciar a mudança do nosso antigo apartamento. Não conseguiria continuar ali, era como viver dentro de um álbum de retrato. Tentávamos ser ao menos amigos e isso me nutria com uma esperança revitalizadora.

Já me sentia melhor, quando na sexta-feira que precedia o São João, o meu celular tocou. Era ele, ligava para me dar ciência daquilo que eu mais temia. “Queria que você soubesse por mim e não por outra pessoa, estou namorando desde a semana passada e viajarei com ele no São João”. Semana passada? Nem menos um luto, pensei. Era um dos seus irmãos-de-santo. Descobria assim o estopim de nossa separação.

Não guardo boas lembranças deste meu São João, diferentemente dele. Com uma energia parida do nada consegui providenciar a pintura e minha mudança para o novo apartamento em tempo recorde. Hoje já vislumbro novos horizontes e me sinto bem melhor.

Tento não guardar magoas. Tive o seu perdão muitas vezes, talvez eu deva esse perdão a ele. Mas, por enquanto, não quero nem mesmo a sua amizade. Por enquanto, a minha indiferença é o que tenho de melhor para oferecê-lo. 

“Os antigos sabiamente pintaram o amor menino, porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com o que armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê o que não via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge” (Padre Antônio Vieira)

quinta-feira, 14 de julho de 2011

TODO AMOR QUE HOUVER NESSA VIDA, DE CAZUZA E FREJAT




Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia

E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia

E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O PRINCÍPIO DO INÍCIO


Conheci G. num desses acasos da vida. Um conhecido na internet, destes bate-papos clandestinos me passou seu MSN. “Esse carinha parece ser legal, sempre converso com ele, mas é cismado, nunca o conheci pessoalmente, adiciona aí”. Lord Byron, desde já gostei da personalidade por ele invocada, me transmitia certa densidade e profundidade.

Não demorou muito para encontrá-lo on-line. Conversamos, se eu me lembro bem, pela primeira vez, numa manhã de sábado. Teclamos não muito tempo e trocamos telefones, foi quando pela primeira vez ouvimos a voz do outro. As conversas não precisaram ser muitas, afinal a afinidade e a curiosidade foram sentidos de maneira recíproca.

No dia 17.07.2007, à tarde, nos conhecemos. Lembro-me claramente a primeira vez que o vi, na esquina e de blusa verde indiana. Não o achei feio nem bonito, apenas um cara normal, e isto me atraiu muito. Cumprimentamo-nos, e seguimos rumo ao meu apartamento.

Alojados e escondidos dos olhares curiosos e incriminadores dos transeuntes conversamos um pouco e demos inicio a nossa estória. As tardes regadas a sexo, conversas e Creedance viraram uma constante, quase semanal. Enquanto isso a amizade crescia. As afinidades eram tantas: filosofia, teologia, religião, filmes, etc. Mesmo com pouca idade, 18 anos, G. era detentor de uma maturidade instigante e interessante.

No entanto, naquela época, vivíamos tempos estranhos. Ambos não estávamos preparados para um relacionamento formalizado. Era algo impensável. Nossa conjuntura familiar e social , e até mesmo pessoal, ainda nos aprisionava. Além disso, existia outra barreira: as drogas.  

Estava em meio a fase mais louca da minha vida. Eu e meu melhor amigo, F., tentávamos cheirar toda a cocaína possível que conseguíssemos encontrar e comprar, e estávamos muito ocupados mesmo.

Mesmo assim G. estava ali do meu lado, chegando, tomando ciência desta realidade e conhecendo todas as facetas da minha conflitante personalidade que eu bruscamente o apresentava. A ele sempre serei grato pela força dada nos momentos de rebordose, foi um grande amigo.


Eu e F. éramos como fogo e pólvora, uma combinação mortal. Passamos cerca de uns quatro anos nesta longa festa. Até que um dia F. se formou e saiu em busca de seu destino. Eu fiquei sem a faísca que incendiava meu barril, logo a minha vida também passou a tomar um novo rumo. Nada ocorreu de forma brusca, mas G. já percebia em mim sinais de mudanças.

domingo, 10 de julho de 2011

AOS MEUS DESOCUPADOS SEGUIDORES


"Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida"
(Clarice Lispector)

Acabo de sair de um relacionamento de quase três anos. Momentos horríveis. Sensação totalmente nova, bizarra e fúnebre que tive que degustar nestes intermináveis dias, algo similar a morte trágica de um ente querido. Os momentos que precedem o rompimento são inacreditaveis e indescritíveis, beira a insanidade. Preferia morrer, pensava. Após um longo período fui levado a revisitar o inferno. Meus diabos estão bem, obrigado, e minha armadura continua forte.


Sobrevivi. Aqui compartilharei com vocês, desocupados seguidores, a minha vida, lembranças, pensamentos, momentos e sentimentos vividos nesta nova etapa, o meu zeitgeist. 


Renasço mais forte do que nunca, mais sóbrio do que antes, melhor do que ontem, mas, ainda continuo pior do que amanhã.


Por isso, desde já, sinto-me na obrigação de avisar às pessoas de estômago fraco, como o meu, e sensíveis a confissões sórdidas que abandonem esta leitura. Não me responsabilizo pela sensibilidade ferida dos moralmente corretos, pois minha intenção não é ser moralista muito menos correto. Minha intenção é apenas ser eu mesmo; assim, humano, demasiadamente humano.

ZEITGEIST


Zeitgeist ; (pronúncia: tzait.gaisst) é um termo alemão cuja tradução significa espírito de época, espírito do tempo ou sinal dos tempos. O Zeitgeist significa, em suma, o conjunto do clima intelectual e cultural do mundo, numa certa época, ou as características genéricas de um determinado período de tempo.

O conceito de espírito de época remonta a Johann Gottfried Herder e outros românticos alemães, mas ficou melhor conhecido pela obra de Hegel, Filosofia da História. Em 1769, Herder escreveu uma crítica ao trabalho Genius seculi do filólogo Christian Adolph Klotz, introduzindo a palavra Zeitgeist como uma tradução de genius seculi (Latim: genius - "espírito guardião" e saeculi - "do século"). Os alemães românticos, tentados normalmente à redução filosófica do passado às essências, trataram de construir o "espírito de época" como um argumento histórico de sua defesa intelectual.


AO MEU AMADO ESTÔMAGO


Há tempos penso num blog. Há tempos sinto uma necessidade irrefreável de escrever. Falo pouco, talvez seja isso. Dar vazão é necessário, quando assim não faço meu estômago reclama, e muito. Aqui escreverei por meu estômago e através dele. É a ele que dedico este blog.