sábado, 16 de julho de 2011

DO INÍCIO DO MEIO AO INEVITÁVEL FIM




Era outubro de 2008, não sei precisar o dia. Estava de mudança, eu e G. nos despedíamos do meu futuro ex-apartamento numa costumeira festa íntima. Já era noite quando decidimos oficializar nossa relação. Tornávamos namorados.

Aos poucos nosso enlace ia se tornando público. Eu passei a fazer parte do mundo de G. e ele do meu. Tivemos muitos momentos que deixaram saudades, outro nem tanto, já que os meus excessos ainda continuavam existindo, mesmo de forma esporádica.

Apesar de tudo ele permanecia sempre ao meu lado, brigando, aceitando e até perdoando as traições ocorridas nos momentos de insanidade.

Na medida do possível tudo caminhava bem. Neste período G. decidira trilhar o caminho dos Orixás. Não dei importância,  desde sempre o conhecera inquieto em relação a sua espiritualidade. Padre, mórmon e agora filho-de-santo. Para mim seria só mais um de seus devaneios em busca de respostas. Mas, não era.

A consolidação de sua escolha me incomodou muito. Tentei ao máximo me adaptar e aceitar seus dogmas, costumes e, principalmente, os resguardos e limitações. Não foi fácil para nenhum dos dois. Mesmo assim seguíamos fortes e apaixonados; eu com meus vícios e ele com a sua fé (ele odiava essa comparação), duas determinantes de suma importância para o desfecho desta estória.

Nosso amor, nossa amizade e nosso companheirismo cresciam de forma surpreendente. Amadurecemos um diante do outro. Viajamos juntos, conhecemos os respectivos amigos e fizemos novas amizades, trocamos confidências, dividíamos segredos e compartilhávamos intimidade. Um era a metade do outro. Estudamos juntos e tivemos êxito num mesmo concurso. Nossa cumplicidade crescia cada vez mais, até que ocorreu o inevitável: decidimos morar juntos.

A essa altura G. já se havia iniciado como filho-de-santo. Na medida do que me foi possível tentei apoiá-lo. Mas, meu possível não era suficiente. Os preceitos de sua religião passaram a ser um motivo constante de desentendimentos.

No fatídico 08 de junho deste ano, faltando 04 dias para nosso 3º dia dos namorados, ele decidiu me deixar. Brigávamos. Eu não me conformava ficar só nos fins de semana para ele dar assistência a seu terreiro. Abrir mão de sua presença me incomodava muito.

Dias difíceis aqueles que precederam nosso rompimento. Longas conversas, muitos calmantes, infinitos torpedos e uma sensação indescritível que beirava o insuportável. G. argumentava que não mais agüentava os meus excessos.

Mas esse não era o real motivo, afinal havia um tempo que tais excessos não ocorriam. A minha não adequação a sua fé foi o que realmente nos distanciou. Mesmo assim fingi acreditar no motivo por ele apresentado.

No domingo, dia dos namorados, marcamos um encontro. Prometi mudanças  e que seria mais tolerante. Ele me perdoou, disse que não tinha raiva, mas não reataria. “Meu coração está fechado e não mais consigo abri-lo”, finalizou.

Passada a tempestade voltamos a conversar. Ele me ajudou a iniciar a mudança do nosso antigo apartamento. Não conseguiria continuar ali, era como viver dentro de um álbum de retrato. Tentávamos ser ao menos amigos e isso me nutria com uma esperança revitalizadora.

Já me sentia melhor, quando na sexta-feira que precedia o São João, o meu celular tocou. Era ele, ligava para me dar ciência daquilo que eu mais temia. “Queria que você soubesse por mim e não por outra pessoa, estou namorando desde a semana passada e viajarei com ele no São João”. Semana passada? Nem menos um luto, pensei. Era um dos seus irmãos-de-santo. Descobria assim o estopim de nossa separação.

Não guardo boas lembranças deste meu São João, diferentemente dele. Com uma energia parida do nada consegui providenciar a pintura e minha mudança para o novo apartamento em tempo recorde. Hoje já vislumbro novos horizontes e me sinto bem melhor.

Tento não guardar magoas. Tive o seu perdão muitas vezes, talvez eu deva esse perdão a ele. Mas, por enquanto, não quero nem mesmo a sua amizade. Por enquanto, a minha indiferença é o que tenho de melhor para oferecê-lo. 

“Os antigos sabiamente pintaram o amor menino, porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com o que armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê o que não via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge” (Padre Antônio Vieira)

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