segunda-feira, 29 de agosto de 2011

TORNA-TE QUEM TU ÉS


"Torna-te quem tu és". Talvez seja este o melhor conselho que se possa dar. Resta-me agora apenas uma pequena pergunta: Quem sou eu realmente?

domingo, 28 de agosto de 2011

EU, ESTÔMAGO


Morar no estômago não é para qualquer um. É assim que me sinto, morando no meu estômago. Não sou cérebro, não sou coração e nem sou pulmão, sou apenas ele e ele sou eu. Há dias vivo apenas para ele. Meu Estômago-Casa, meu Estômago-Templo, meu Estômago-Eu. Nada de dores de cotovelos e amores não solucionados, nada de dívidas não solvidas e nem solidões mal digeridas. Apenas bactérias, um motim delas. Estrebucho e me esvaio em litros de descarga. Foi-se embora alguns quilos, foi-se embora também todas as dores.  Restará apenas osso, carcaça e alma.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

SEM TÍTULO, BY PEDRO BIAL

"(...) a morte, por si só, é uma piada pronta. Morrer é ridículo.

Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente?

Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer. A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. 
 
Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente.

De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis.

Qual é? Morrer é um cliche.

Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira.

Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu.

Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério?

Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz.

Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas.
Só que esta não tem graça".

domingo, 21 de agosto de 2011

DE CLARICE A NIETZSCHE


Não passei bem esses dias. Cinco dias de dores ininterruptas. Meu estômago. Pois é, ele novamente. Hospital, consultas, remédio, atestado médico para descanso e nada. O problema somente foi resolvido no divã.  "Chega de Clarice, leia Nietzsche", recomendou. Problemas outros me incomodam, não mais aqueles de outrora. Buscarei meu super-homem.

Interessante essas instabilidades da vida. Percebo que as recebo de forma muito resignada. Lógico que a dor me incomoda, e muito. Mas se reeguer nos mostra como é bom estar vivo e saudável. Equilíbrio e desequilíbrio, sofrimento e bem-estar, tristeza e felicidade, essas sensações são as provas de que ainda estamos respirando e vivos.

domingo, 14 de agosto de 2011

SOBRE AS INEVITÁVEIS TRANSIÇÕES


Um tempo considerável se passou após minha última postagem. Peço desculpas a vocês, meus queridos e desocupados seguidores.

Muitas coisas aconteceram nestes dias de silêncio. Não se preocupem, não trago mais notícias ruins e melancólicas, são as boas notícias que me trazem aqui novamente. O destino tem cooperado bastante comigo.

Como sabem passei um bom tempo remoendo os últimos acontecimentos da minha dolce vita, o meu zeitgeist. Minha razão tentava me convencer que tais fatos eram imutáveis, e que cabia a mim somente me resignar e seguir a vida. Tinha consciência disso, mas não conseguia assimilar verdadeiramente a mensagem.

Decidi passar por todo esse processo de cara, sem exagerar no álcool e sem fazer uso de drogas, principalmente a cocaína. Sei que elas iriam potencializar ainda mais a minha fossa.

Porém, há umas três semanas decidi quebrar essa privação e me propiciando uma boa sessão*, daquelas quase sem fim. Fiz e posso afirmar que não me arrependo em momento algum. Muito pelo contrário, ouso dizer que ela me fez muito bem. Creio que essa over-adrenalização do meu cérebro acabou mudando algo, como se trocasse a minha polaridade.

Foi dois dias após que decidi ligar para G., para que a partir daí de forma convicta, seguisse com a minha vida. Vislumbro sonhos e possibilidades que há pouco tempo não vislumbrava. Estou aberto à vida, a conhecer e experimentar outros caras e tenho conhecidos uns até muito legais e interessantes. Posso até afirmar que estou em meio a uma recém-nascida paixonite. Pois é, fui rápido também.

Quanto a G. temos conseguido com muito êxito reconstruir nossa amizade. Nos vimos mais algumas vezes, já veio ao meu apartamento e confidenciamos ao outro todas as nossas novas aventuras de um bom solteiro. Pode ser que talvez seja cedo demais para isso. Mas tá sendo assim, e tenho achado legal. Torço muito que ele fique bem. E acho que ele também está caminhando para isso.

(*) quando se dá o uso de cocaína, e, geralmente, de forma imoderada

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

ENCONTROS, DESENCONTROS E REENCONTROS


Antes eu te olhava do meu dentro para fora e do dentro de ti, que por amor, eu adivinhava. Depois da cicatrização passei a olhar-te de fora para dentro. E olhar-me também de fora para dentro: eu me transformara num amontoado de fatos e ações que só tinham raiz no domínio da lógica".
(Clarice Lispector, in Um Sopro de Vida)


Era domingo, e domingo é uma merda. Não aguentava mais, tinha que ligar para ele. Precisava de respostas.  Assim fiz.

Não demorou em atender. Parecia bem. O cumprimentei, fiz uma pequena introdução, mas decidi ser direto: "Teve algum fato expecífico que desencadeoou tudo isso?". Respondeu de forma tão direta como perguntei. "No foi um fato isolado, foram vários pequenos fatos: suas saídas, o seu descaso, as drogas...". Nada que eu já não sabia.

Me fez bem ligar. Percebi que já não havia chance. Deve ter sido difícil para ele. Tinha apenas 20 e poucos anos e estava casado com um cara que não lhe transmitia a segurança e o amor necessário. Sei que ele havia apostado alto nessa estória. Mea culpa, mea máxima culpa, reconheço. Mas, confesso que não a carregarei comigo. Ficou para trás, já era.

Na terça-feira, já mais leve liguei novamente e combinamos de nos ver. Fui buscá-lo em sua casa. Acreditava que nunca mais faria aquele percurso novamente, e o fiz sem expectativa alguma. Não acreditava na possibilidade de retorno por ambas as partes.

Descobri que ele não está bem, fiquei surpreso com isso. Mas ele não sofre por mim, e sim pelo seu novo amor que não vingou. Aquele mesmo, seu irmão de santo. O seu namoro não foi aceito pelo seu guia, é como se fosse um incesto espiritual. Fora expulso de seu terreiro. Já seu namorado pode permanecer, mas renunciando a ele. G. ficou sem nada: sem amor e sem mentor.

Por essas está em meio a um pequeno inferno astral. Faculdade já era, pelo menos o semestre; está fumando, Carlton, pelo menos tem bom gosto; e seus olhos me olham de forma diferente, vazios, como de estátua. Quem eu amava e o que eu amava já não existe mais, constatei.

Fiquei triste? É claro que fiquei. Não o gostei de vê-lo assim. Mas tudo isso me fez ter a convicção que não há mais espaço nele pra mim, nem em mim para ele. Somos duas criaturas estranhas, diferentes daquele outro momento. 

Mas, apesar de tudo, sua amizade me interessa, e muito. Na verdade acho que foi o que mais me interessou sempre, desde quando ele me deixou conhecer a sua alma. Mas, não quero que os sentimentos se misturem. Conselho este que serve para mim e também para ele.


Mesmo com esse desfecho, continuo acreditando que vivemos uma estória legal, não me arrependo. Foi um romance para rechear a biografia de minha vida. Afinal, todo roteiro que se preze tem que ter uma  bela estória de amor, mesmo que ela não  dure até o último capítulo.