sexta-feira, 2 de setembro de 2011

DELÍRIOS: MEDOS


Hoje recebi uma ligação bem inesperada. Meu sobrinho, de 9 anos. Tão inesperada quanto a sua ligação foi o seu motivo: “Qual o seu maior medo?” - perguntou. Precisava elencar o medo de dez pessoas, trabalho de escola. 

Pensei um pouco antes de responder. Nada me via a mente. Não tenho medo de nada?! Constatei de forma indignada. Senti medo desta constatação, pouco saudável e bastante arrogante. Mas, para não deixa-lo sem resposta: “Tenho medo dos meus medos, acho que tenho fobofobia”, respondi. Ele riu, mas a aceitou de bom grado.

Percebo que todo esse processo que vivenciei há alguns meses me transformou numa pessoa mais forte. Sei que coisas piores podem acontecer do que um simples fim de relacionamento. Mas, “esse fim” e a dor  experimentada me fizeram vestir novamente uma armadura que há tempos não vestia. 

Gosto desta sensação de força. Como me sentisse pronto para quase todas as possibilidades, todos os acasos e fatalidades da vida. Não nego que sofreria em diferentes graus caso algumas delas viessem a ocorrer, mas tenho a convicção de que sobreviveria a muitas delas.

No entanto, a pergunta não mais me abandonou no resto do dia, até que, finalmente, eu descobri aquilo que para mim considero um bom medo. Tenho medo de ser velho. Não me refiro apenas à decadência do corpo, afinal envelhecemos a cada momento, morremos um pouco a cada respiração. Mas, ser velho, como sinônimo de obsoleto, isto sim me amedronta. Gostaria de estar mais preparado para este processo.

Pensando bem, constato que carrego comigo essa preocupação desde a tenra idade. Porém, com o meu envelhecer, percebi que nunca me senti tão velho como eu esperava estar. Lembro-me que aos 15 anos um cara de 33 já era um senhor, um velho, arcaico. Hoje, no entanto, já com esta idade me sinto até bem jovem. Chego a assumir que tenho ainda uma grande dificuldade de me ver como um adulto. Um tipo de Síndrome de Peter Pan.

Lembro-que aos 11 anos vislumbrava com respeito os alunos mais velhos. Deveriam ter 17 anos, alguns com barba e com porte físico já solidificado. Para mim eram homens adultos, senhores de si e do mundo, donos de todas as verdades; olhava-os com veneração. Até hoje, não consigo me ver como eles. Continuam sendo mais velhos do que eu. Meus 33 anos não ultrapassaram aqueles 17 e continuo tendo perguntas sem respostas.

Gosto desta sensação, mesmo sabendo que ela é uma farsa. Quiçá um subterfúgio anti-envelhecimento. Sei que não envelhecer fisicamente é algo impossível, e já me contento apenas em retardar esse processo e cooperar com o tempo e vitando alguns abusos.

No entanto, minha alma, esta eu espero que não envelheça jamais. Gostaria de nunca me envelhecer para a dinâmica da vida e para os novos processos sociais. Pois sei que existem infinitas possibilidades de transformações que ainda nem vislumbramos. Gostaria de nunca ser ultrapassado. Gostaria de nunca me envelhecer para o mundo.


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